O maestro e pianista Ricardo Porfírio de Afonseca foi um dos músicos madeirenses mais distintos, nos segundo e terceiro quartéis do século XIX. Filho de uma destacada figura da sociedade madeirense, o Doutor José Maria de Afonseca - Inspector Geral da Agricultura e das Estradas da Ilha da Madeira - o músico teve sempre acesso aos círculos sociais da elite madeirense, tendo-se destacado como fundador e um dos membros mais activos do Clube Funchalense.
O Clube Funchalense foi fundado em 1839 e era um clube elitista onde se realizavam jogos, danças e vários outros tipos de convívios sociais. O acesso ao clube era bastante restrito, sendo apenas admitidas pessoas do alto comércio funchalense, não sendo mesmo permitido o acesso aos lojistas e outros comerciantes de estabelecimentos mais humildes.
No plano musical, o Clube tinha também um projecto que visava promover concertos de música vocal e instrumental. Neste projecto, salientavam-se os bailes e "soirées", marcados pelo luxo e esplendor, e onde participavam pessoas ilustres, nacionais e estrangeiras.
O prestígio de Porfírio de Afonseca no seio do Clube deveria ser bastante elevado. O músico chegou a estar à frente da direcção do Clube durante cerca de um ano, sendo também provável que Porfírio de Afonseca se tenha destacado como pianista nos convívios sociais do clube.
Como compositor, é sabido que Porfírio de Afonseca compôs várias obras musicais, onde se destacam um “Salmo” para a Igreja Anglicana (onde chegou a ser organista), uma "Ouverture" - interpretada no seio da Sociedade Philarmónica - e várias peças para piano, tais como "Souvenir de Madère : Trois Valses pour Piano” - obra dedicada à então rainha-mãe de Inglaterra, Adélaide d'Angleterre - e "Madeira Cotillions", conjunto de peças para piano editadas em Nova Iorque. Em versão manuscrita, sabemos da existência de uma valsa e de um “Hymno” dedicado à rainha de Portugal D. Maria II.
Paulo Esteireiro